
Pe. Jeferson Schaefer Furtado – Paróquia São Miguel, Dois Irmãos
Há semanas que passam… e há a Semana Santa, que nos atravessa como um rio que redesenha o coração. Não marca datas: marca destinos. Leva-nos ao centro da fé, onde o amor se faz cruz, silêncio e luz. Não se mede no calendário — se vive no coração. A Igreja nos chama a subir com Jesus a Jerusalém. O caminho começa com ramos, passa pelo silêncio e pela cruz… e termina com a pedra removida. Não é encenação nem costume. É o Amor em movimento. E quem entra… não volta igual.
No Domingo de Ramos, a festa se mistura à dor. Começamos com ramos e cantos, e já ouvimos a Paixão. Jesus entra não como rei, mas como servo que se entrega. O altar se cobre de solenidade, mas o tom é de silêncio. É o início do retiro anual da comunidade. Como dizia São Paulo: “Ele se humilhou… Deus o exaltou.”
Na segunda, terça e quarta-feira, a liturgia mostra três figuras: Maria, que ama e unge; Pedro, que promete e nega; Judas, que trai. Não há grandes ritos, mas há um forte apelo ao coração: com quem queremos nos parecer? São dias de silêncio, exame e decisão.
A Quinta-feira Santa amanhece com a Missa do Crisma. Os padres renovam seus compromissos. Os óleos são abençoados. A Igreja se fortalece na missão. À noite, começa o Tríduo Pascal. Jesus senta à mesa, parte o pão, entrega o cálice e lava os pés. Ele se abaixa e diz: “Façam isso também.” O altar brilha. Em seguida, silencia. O amor está em movimento.
Na Sexta-feira da Paixão, a Igreja se cala. Não há missa. O padre se prostra. A cruz se ergue: sinal de amor total. Jesus morre sem se defender, perdoando. Beijamos a cruz: é nosso “obrigado”. A oração universal abraça o mundo. A piedade popular, com seus passos, transforma ruas em liturgia. Não é paralela. É ponte. A fé caminha pelas calçadas, de cabeça baixa e alma acesa.
O Sábado Santo é o dia do túmulo. Do silêncio absoluto. Mas também da esperança. Deus age no escondido. Ao anoitecer, acende-se o fogo. O Círio Pascal rompe a escuridão. A luz se espalha. A Palavra reconta a história da salvação. A água abençoa a vida nova. A Eucaristia alimenta a fé da Igreja. É a noite em que tudo muda. A cruz não foi o fim – foi passagem. O sepulcro está vazio.
O Domingo da Ressurreição nasce com pressa: Maria Madalena corre. Pedro e João correm. A Páscoa é notícia urgente. O que parecia fim virou recomeço. A pedra foi removida. O medo vira missão. Páscoa é boa nova que pede testemunho. E o Ressuscitado não está longe: caminha conosco. Ele está vivo: na Eucaristia e nos irmãos.
A Semana Santa não se assiste — se vive. Não se organiza apenas — se acolhe com corpo e alma. Quem mergulha nesse mistério sai diferente. É tempo de cruz e vela, silêncio no corpo… esperança na alma. Quem vive essa semana chega à Páscoa mais leve, mais luz. Com a alma acesa — como o Círio — e a certeza de que o caminho com Jesus continua. Passou no calendário, mas ficou no coração. Cristo vive. E caminha com a gente.