
Por Rafael Sauthier*
Quando olhamos surpresos o aumento da criminalidade, muitas vezes temos a tendência de logo criticar as polícias ou o Estado pelo caos em que vivemos. No entanto, antes de julgar, devemos lembrar de 3 premissas. Primeiro: se o crime aconteceu e buscamos a polícia, é porque antes disso todo mundo fracassou. Errou o delinquente, sim. Mas também falharam os pais, a família, a escola, os professores, a sociedade e os demais órgãos estatais de controle. Segundo: o delito é um mal que atinge a todos, e não apenas a vítima. Alcança também a sociedade, o Estado como um todo, e até mesmo as polícias. Todos estão do mesmo lado e têm interesse na paz social. Terceiro: o Estado somos todos nós! Se não estamos contentes com o desgoverno em que vivemos, devemos lembrar que fomos nós, eleitores, que decidimos não concorrer a nenhum cargo eletivo, que decidimos eleger determinadas pessoas para nos representar, que não fiscalizamos e não cobramos adequadamente os nossos mandatários.
Não é por acaso que, ao tratar da segurança pública, a nossa Constituição Federal de 1988 diz em seu art. 144 que “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos...”. Sim, você que é pai, mãe, cidadão(ã), aluno(a), filho(a), trabalhador(a), enfim, não importa o papel que você exerça, não esqueça que a segurança pública é um encargo partilhado por todos. Como fazer isso? (1) Exercendo a cidadania. (2) Cumprindo a lei, não sonegando, não comprando mercadorias falsificadas ou de origem criminosa, respeitando o trânsito, os contratos firmados e o horário de silêncio. (3) Dando um bom exemplo em cada papel que exercemos na sociedade. (4) Preservando o meio ambiente. (5) Tendo uma postura ativa ao adotar um canteiro ou participar de algum trabalho voluntário. (6) Cooperando com o Estado ao auxiliar a polícia com informações ou cumprindo o dever de servir como testemunha.
Tudo isso auxilia na melhoria da segurança pública? Sim, diretamente! As polícias ou o Estado podem falhar? Sim. Mas antes de partirmos para a crítica, pense que o trabalho policial só é necessário porque antes disso, todos fracassaram. Pense onde você falhou ou o que você poderia fazer por um mundo melhor. E, acima de tudo, pense que se há pessoas mal-intencionadas, também há muitas pessoas anônimas fazendo o bem e lutando por uma sociedade melhor.
(*) Rafael Sauthier é Delegado de Polícia há 18 anos e exerce suas atividades no Vale do Sinos. Também é mestre em Ciências Criminais pela PUC RS e professor de Direito Processual Penal na Faccat