
Por Alan Caldas (Editor e Confrade)
No ano de 1995, três amigos de Dois Irmãos decidiram criar uma Confraria. Nela, os 3 se reuniriam para trocar ideias sob os assuntos mais importantes “do mundo”.
Talvez a leitora e o leitor se perguntem:
– Mas afinal, o que é uma confraria?
A Confraria que os três amigos iniciaram lá no distante 1995 é uma irmandade. São 3 pessoas de idade próxima e que têm grande interesse em compreender COMO e POR QUE os fatos científicos, sociais, econômicos e políticos ocorrem ao nosso redor, seja em Dois Irmãos, no Brasil ou no mundo.
Foi pensando assim que os amigos Nilson Olbermann, Heitor Mena Barreto e Alan Caldas iniciaram a Confraria deles.
A Confraria precisava um “nome” e um “estilo”. Tudo na história tem de ter nome e estilo. E qual nome e estilo eles dariam?
Existem Confrarias de tudo. De vinho. De champanhe. Feminina. Masculina. De charuto. De cerveja. De cachimbo. De linguiça. Tem de tudo que é tipo.
– Mas, e a nossa? – Eles se perguntaram.
Precisavam de algo que caracterizasse bem a vida passada da cidade que os 3 amam, que é Dois Irmãos. E aí fez-se a luz.
Em Dois Irmãos, naquele ano de 1995, embora o magnífico desenvolvimento industrial já tivesse chegado e melhorado a vida de tudo e todos, ainda se prestigiava maravilhosamente a “colônia”. Porque era da colônia que tinham surgido os melhores valores culturais que, geração após geração, geraram as pessoas e líderes empresariais e políticos que fizeram Dois Irmãos se tornar o Modelo de Cidade que ela é. Na colônia sempre esteve o trabalho duro, o desejo de progredir, a fé, o respeito. A família. Os valores, a cultura que é de fato a melhor cultura da imigração.
De maneiras que, pensando nisso, Nilson, Heitor e Alan decidiram prestigiar a colônia, de onde havia vindo praticamente tudo de bom que se tinha e tem em Dois Irmãos. Uma cidade precisa prestigiar seu passado, quando ele é bom.
Para prestigiar a colônia, a Confraria precisaria ter algo característico dos homens e mulheres que nas colônias cultivavam a terra, produziam alimento, criavam gado e faziam a vida acontecer. E os 3 chegaram à conclusão de que, entre os homens, era o palheiro o que melhor caracterizaria a vida na colônia.
Os imigrantes desde sempre já plantavam fumo. E no passado quase todo mundo fumava. A confraria iria prestigiar o palheiro. E só quem já fez fumo sabe a trabalheira que dá até se ter em mãos o famoso fumo amarelinho. É uma ‘serviçainhama’ dos infernos. É um planta, colhe, seca, e dali em diante é um enrola e desenrola sem fim, várias vezes ao dia, num serviço que deixa as mãos encardidas muitas e muitas vezes até que, finalmente, surge o fumo em corda. O fumo que, picadinho a canivete e amassadinho na mão é envolvido numa fina palha de milho e se transforma em cigarro. Esse cigarro era conhecido como palheiro. E, ao ser aceso, ele exalava o mais típico aroma de colônia, de sítio ou de fazenda.
Foi assim que os três amigos escolheram o nome de Confraria do Paiêro para a irmandade.
A Confraria eram os 3, apenas. Mas escolhemos um Membro Honorário, eleito em votação unânime. Era o hoje infelizmente já falecido amigo Gilberto Kielling, um colono típico de Padre Eterno Ilges. Ele era esposo da inesquecível e histórica professora Valida e pai do Luciano Kielling, que já foi secretário de Agricultura no Teewald. Quando seu Gilbert faleceu, deixando todos nós muito tristes e acabrunhados, o cargo de Membro Honorário ficou vago. E, em homenagem a excelente memória dele, nunca mais o preenchemos.
Nesses 28 anos a Confraria do Paiêro se reuniu poucas vezes. É que em cada reunião são tantas novas ideias ali debatidas acaloradamente que se precisa anos e anos para assimilar direitinho tudo que cada um dos 3 confrades diz durante o encontro.
Foi nesse clima intelectual e afetivo que os três amigos tiveram, na última quinta-feira, 17, mais um encontro festivo e cultural. Desta vez foi lá em casa. Na anterior tinha sido na casa do Heitor. E a próxima será na do Nilson.
As esposas participam. Como convidadas especiais. A dona Helena não pôde vir nesta, pois tinha um compromisso com Catequistas na Igreja Matriz. Participaram a Cláudia, esposa do Heitor, e a minha Angela. Mas detalhe: Quem faz tudo, inclusive a janta, são os homens.
Desta vez servimos dois pratos: um risoto de funghi e uma massa Giuseppe Verdi. Tudo harmonizado com vinho malbec argentino, champanhe artesanal elaborada no refinado método de vinificação champenoise pelo descendente de italianos Jandir Furlaneto lá de Garibaldi e, para o confrade Nilson, que só aprecia cerveja, serviu-se vários blends da magnífica e super premiada Hunsrück, aqui de Dois Irmãos. Ao final, palheiros feitos pelos integrantes da confraria, e charutos também.
Em cada reunião se faz uma Foto Oficial. E os três confrades ao ver a foto e comparar com a foto de 28 anos atrás, concluíram, rindo, que não há dúvidas:
– O tempo desgraçadamente está passando para todo mundo.
Inclusive para os três... ai, ai, ai... kkk...