
Por Alan Caldas (Editor / JDI)
Quando as pessoas chegam aos 70 ou estão com 70 ou mais anos de idade, elas inconscientemente recordam que haviam decidido lá na adolescência a idade certa para a própria morte.
Quer ver?
Se você perguntar para alguém com 15 anos de idade QUANTOS ANOS ela vai viver, a maioria dirá:
– Uns 70 anos.
Ou:
– Uns 70 e poucos.
– No máximo uns 80.
Casos raríssimos dirão “90”. E praticamente ninguém dirá 120 anos (que seria a idade biologicamente possível).
Essa é uma “programação” de morte e é feita pelas pessoas lá na adolescência delas.
Essa “data máxima” de vida é introduzida na mente delas por elas mesmas.
Ao longo da vida, lembrando ou não da programação que fizeram, elas acreditarão consciente ou inconscientemente que “no máximo” viverão por 70 anos, ou 80, se muito.
Essa “programação para a década de morrer” feita lá no início da vida, vai desaparecer da memória imediata.
Vai se acomodar no subterrâneo da consciência.
Vai sobreviver escondida, porém viva, lá no fundo mais fundo da pessoa como uma “programação de tempo possível de vida”.
A pessoa coloca isso na inconsciência e segue vivendo.
Vai casar.
Vai ter filhos.
Assumirá uma profissão.
Viverá todas as alegrias, prazeres, encrencas e desgraças que compõem o que chamamos de VIDA.
Terá a separação.
Viverá traições.
Suportará fracassos.
Terá perdas. É um que morre. É outro que parte. É o ninho que esvazia.
Entre alegrias e tristezas viverá a vida.
Quando chega lá pelos 50 e poucos, ela já não terá mais avós nem pai nem mãe nem tios e nem irmãos que amava.
Os amores que coloriram sua vida com alegrias serão passado.
É inevitável olhar para trás.
É inevitável olhar para dentro.
E esses fatos todos, que é o que chamamos de vida, a pessoa NÃO ESQUECE.
Ela está viva e carrega em si lembranças incríveis de quem já viveu com ela momentos muito mais incríveis do que estes que ela está vivendo agora.
O tempo vivido abre um buraco na existência da pessoa.
O Ser, que deveria significar o Estar, passa a ser um Foi.
Ela olha o passado.
Ela vê o que fez.
Ela vê o que não fez.
Ela vê o que se obrigou a fazer porque as conveniências sociais a obrigaram a fazer.
Ela descobre que viveu a vida dos outros muito mais do que viveu a vida dela própria.
Ela descobre que foi vítima das convenções.
Ela percebe que é vítima de uma “ética” que não foi ela quem criou. Vítima dos conceitos que lhe disseram que “era certo” e que ela praticou sem nem pensar no porque praticava.
Chega, então, aos 70 anos de vida.
Descobre que já não tem a força dos 30.
Que lhe falta energia.
Que lhe fugiu o desejo.
Que está mais cansada, menos disposta.
Sente-se muito, muito frágil.
Aos 70 anos de vida já teve muitos problemas físicos e psíquicos.
Começa, então, lentamente a se ajoelhar diante de um mundo para o qual ela, agora já velha, vai ficando cada dia mais invisível.
Percebe que já falam com ela só por favor.
Que lhe dirigem a palavra e atenção só por misericórdia.
Essa situação faz com que aquela programação do tempo da morte, feita como brincadeira lá na adolescência, VOLTE à consciência dela com força destrutiva.
Volte e lhe “confirme” que seu prazo de validade está esgotando. Ou já esgotou.
Vem nela uma certeza de que o tempo dela terminou. E é aí que tudo que passa na mente da pessoa é:
Ir morrendo.
É ir se fragilizando.
É ir se entregando.
Na cabeça dela, começa um “filme” sobre seu fim. Um filme imaginação sobre o que restará “depois”. Sobre como ficarão sem ela os que estão por perto.
Ela não sabe, mas está acometida da doença vital a qual chamo de Síndrome da Morte aos 70 anos.
É quando a pessoa começa a ir a médico e mais médico e mais médico. A fazer exame e mais exame e outro exame. A buscar remédios e mais remédios. A achar cada vez mais problemas e menos saúde em si mesma. Mais tristeza e melancolia do que alegria em seu viver.
A ir, enfim, fazendo tudo que confirme para ela própria que ela “está acabada”. Ou que, no máximo, está “se acabando”.
Assim ela vai convencendo-se, lentamente, de que o que resta para ela é tão-somente um anúncio fúnebre para o convite do seu próprio enterro.
Porque, na mente dela, há muito tempo ela já decidiu que essa é a idade “correta” para ir a esse LUGAR NENHUM ao qual chamamos de morte. E, tristonhamente, ela concluirá que “estava certa”.