
Pe. Alexsandro Lemos da Silva
Vivemos tempos difíceis. Há quem tenha perdido o rumo, a fé, até mesmo a vontade de esperar. É justamente agora que a Igreja nos faz um convite que surpreende pela ousadia: esperar com confiança. Estamos vivendo o Ano Jubilar 2025, proclamado pelo Papa Francisco como Ano Santo, com o tema “Peregrinos de Esperança” e o lema tocante de São Paulo: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Quando tudo parece instável, o Jubileu nos aponta uma direção: seguir em frente, confiando que Deus ainda tem a última palavra.
A tradição do Jubileu é antiga. No Antigo Testamento, a cada cinquenta anos, o povo de Israel celebrava um tempo de libertação, perdão e descanso. O Livro do Levítico diz: “Proclamareis a liberdade na terra a todos os seus habitantes: será para vós um jubileu” (Lv 25,10). Era o tempo de recomeçar. A Igreja herdou essa sabedoria e a transformou num sinal de fé: desde o ano 1300, os Papas convocam o povo de Deus a atravessar esse tempo com o coração renovado. Agora, em 2025, é a nossa vez.
Na bula Spes non confundit, o Papa Francisco nos diz que este é um tempo para reacender a esperança. Ele escreve: “A esperança cristã é a expectativa confiante de algo que vai acontecer porque foi prometido por Deus.” Quem crê nessa promessa não se deixa aprisionar pelo medo. Olha para frente, sem negar a dor do presente. A esperança não é fuga, é força que impulsiona. Ela nos move.
Durante este ano santo, somos chamados a viver gestos concretos de fé: atravessar a Porta Santa, fazer uma peregrinação, buscar a reconciliação com Deus e com os irmãos, acolher a graça da indulgência plenária, e intensificar a oração. Não por obrigação, mas como resposta amorosa ao Deus que nunca deixou de caminhar ao nosso lado.
O símbolo deste Jubileu é uma âncora — discreta, firme, cheia de sentido. A Carta aos Hebreus diz: “Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura” (Hb 6,19). Quando os ventos da vida ameaçam nos arrastar, é essa esperança que nos mantém firmes. Não é peso. É apoio.
Mas a esperança, de verdade, se manifesta nas coisas simples: no abraço que acolhe, na palavra que levanta, na escuta paciente, no perdão silencioso, na fidelidade que resiste ao tempo. Está também naquele sorriso que sobrevive mesmo quando o dia foi difícil. O Papa nos recorda que “a esperança é audaz, sabe olhar além do conforto pessoal, das pequenas seguranças e compensações que estreitam o horizonte” (Fratelli Tutti, 55).
O Ano Jubilar é mais do que um marco litúrgico. É uma oportunidade de recomeçar por dentro. Mais do que atravessar uma Porta Santa, somos convidados a abrir as portas do coração, deixar a esperança entrar e, depois, espalhá-la pelo mundo com gestos simples e corajosos. Que este tempo não apenas passe por nós, mas passe dentro de nós, curando feridas, renovando decisões e inflamando a fé.
Que sejamos, com humildade e coragem, peregrinos da esperança. Gente que caminha com os olhos abertos, os pés no chão e o coração voltado para o céu. Porque mesmo quando tudo parece escuro... Deus ainda faz nascer o novo.