Idosos contam como enfrentam período de isolamento

22/05/2020
Lauro Specht, 84 anos, não dispensa um carteado

Lauro Specht, 84 anos, não dispensa um carteado

Há dois meses, a hashtag #ficaemcasa ganhou força ao redor do mundo como uma maneira de incentivar as pessoas a se isolarem em suas residências. A ação visa combater a propagação da Covid-19 e é reforçada, principalmente, entre os idosos, que integram o grupo de risco.
No Rio Grande do Sul, segundo a Projeção de População do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos correspondem a mais de 20% da população. Ou seja, são mais de 2 milhões de pessoas atingidas diretamente pela medida preventiva. Sabe-se que o isolamento é importante para a segurança dos idosos, o que exige grandes mudanças na rotina, tendo em vista que a orientação é, exceto em casos necessários, não ultrapassar o portão de casa.
“Foi difícil me acostumar”, confessa o industriário e representante aposentado Lauro Aloísio Specht, 84 anos. Antes do isolamento, Specht passava as tardes de terça a domingo jogando carta em um bar perto de sua casa, em Dois Irmãos; visitava amigos e fazia caminhadas pela cidade. “Ele cuidava até o tempo que levava nos trajetos”, conta a filha Regina Braun, aos risos, afirmando que ele sempre foi muito ativo.
Com a necessidade de ficar em casa, Lauro se adaptou à nova realidade. “Agora já me acostumei. Me cuido bastante”, diz ele, falando sobre as mudanças. “De manhã cedo, faço bicicleta, todos os dias. Só falhei um domingo para jogar carta com as filhas”, conta ele, se referindo a Regina, que mora na mesma casa, e Margarida Thome, que mora em outra residência, mas no mesmo pátio. “No carteado, o álcool gel está sempre do lado”, afirma Margarida.
Com um quarto espaçoso e uma área coberta ao redor, Lauro acaba se entretendo por ali mesmo. “Faço minhas caminhadas pelo quintal e na varanda, vou e volto umas dez vezes. Também bebo bastante líquido”, diz ele, que tem um filtro com água e uma bandeja cheia de frutas disponível nesse mesmo cômodo. “Quinta-feira é meu dia da faxina”, conta, orgulhoso. “Já nos oferecemos para fazer isso, mas ele quer cuidar do cantinho dele”, diz Margarida, comentando que o pai é muito independente, exceto para o controle dos medicamentos, que é feito por Regina.
Para garantir a segurança do pai e avô, a família redobrou cuidados. Proprietários de uma empresa alimentícia que fica entre as residências, os familiares comentam que esse fator também ajuda no atual momento. “Só saímos para ir ao mercado ou em casos estritamente necessários; e ao retornar, higienizamos tudo”, conta Margarida.


Hani e Lina também ajudam Lauro a passar o tempo


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“A vó gosta de correr rua, mas estamos de olho”

Quem também está obedecendo à orientação de ficar em casa é a dona Evani Erci Keller, 76 anos, de Campo Bom. Ela se considera uma pessoa caseira, mas, neste momento, não nega a saudade da rua. “A vó gosta de correr rua, mas estamos de olho”, reforça, cuidadosa, a neta Patrícia Vidal, que mora em outra casa, mas no mesmo pátio.
Artesã há quase 30 anos, dona Evani faz parte da AArtebom, Associação de Artesanato do município. Antes da necessidade de isolamento ela gostava de ajudar, pelo menos uma vez por semana, no comércio dos artesanatos, expostos pelo grupo no Largo Irmãos Vetter. “Toda sexta-feira a tarde eu vendia artesanato na praça. Era um passatempo para mim”, conta ela, que também aproveitava o momento para rever e conversar com as amigas. “Sinto falta disso”, acrescenta Evani, que agora se dedica, exclusivamente, a trabalhar e vender sob encomenda. Ela faz tricô e ponto cruz. As mãos, ágeis e ao mesmo tempo delicadas, dão forma às roupas que levam consigo o carinho e a doçura da avó — que também já possui um bisneto.
Quando não está produzindo, dona Evani se mantém ocupada deixando o lar em ordem. “Passo a vassoura na casa, depois passo de novo…”, dispara ela, bem humorada, contando ainda que faz caminhadas pelo pátio — onde também mora a filha Clara Keller — e se distrai com Sig, o cachorrinho de estimação.
Juntas, a filha Clara e a neta Patrícia realizam as compras da casa, entre alimentos e produtos de higiene e limpeza. “Estamos nos responsabilizando por isso. Tomamos todos os cuidados necessários com a higienização das mercadorias, atendendo às normas estabelecidas pela saúde — tudo para mantê-la em segurança”, conta Patrícia, confessando que às vezes é preciso atenção redobrada com a avó. “Ela adora caminhar em volta da casa, varrer o pátio. Embora a gente diga para ela não fazer, quando vemos está fuçando em algo”, completa.


Fazer tricô é um dos passatempos de Evani. Bem humorada, ela entrou na brincadeira de Clara e Patrícia, que a “prenderam” em casa

 

 



 


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