Você provavelmente já tem burnout, agora saiba como tratar

17/08/2019
Fonte: GQ Brasil

Fonte: GQ Brasil

Quando ir trabalhar vira um pesadelo e a rotina se torna paralisante, o sinal é de alerta: a síndrome de burnout (esgotamento profissional, em português) pode estar à espreita. Recém-classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como um estresse crônico, ela é uma resposta desequilibrada à pressão emocional sofrida no ambiente corporativo, que não foi administrada com êxito. E é mais comum do que se imagina. Não à toa, a partir de 2022, passa a figurar na Classificação Internacional de Doenças (CID) como um conjunto de sintomas que afeta a saúde do trabalhador.
Segundo levantamento de 2018 do ISMA-BR (International Stress Management Association), 72% dos brasileiros entre 25 e 65 anos, atuantes no mercado de trabalho, sofrem com o estresse em menor ou maior grau. Desse total, 32% são vítimas de burnout – e metade delas acaba desencadeando quadros depressivos. “Apesar do sentimento de incapacidade, a grande maioria (92%) permanece em seus postos de trabalho por medo do desemprego”, diz Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente da instituição.
Na prática, o fenômeno se caracteriza por três dimensões atestadas pela OMS: realização pessoal, esgotamento emocional e despersonalização. Marley Araújo, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, explica: “O profissional tende a se avaliar negativamente, se sente incompetente, com baixa autoestima, não consegue dar mais de si naquela atividade e passa a adotar atitudes cínicas na interação com os outros, demonstrando desinteresse e total falta de empatia”.


Sintomas
Os especialistas na área são unânimes ao destacar que o burnout não se trata de um acaso ou de uma reação repentina, mas sim de um processo cumulativo grave. Entre os seus gatilhos estão sobrecarga de trabalho, acúmulo de responsabilidade combinado à baixa autonomia, falta de recompensa por parte do gestor, situações de injustiça e conflito de valores. “Neste último caso, é como se para realizar sua atividade, o profissional precisasse colocar seu coração na gaveta e só o pegasse de volta no fim do expediente”, descreve Rossi.
À medida que se desencadeia, o esgotamento profissional pode render tanto danos psicológicos quanto físicos, como dificuldades de concentração, lapsos de memória, ansiedade, dores de cabeça, fadiga, taquicardia e insônia. “O reconhecimento da OMS vai ajudar a tratar a síndrome para além do cansaço”, afirma Erika Nakano, mestre em Psicologia Social pela USP e pesquisadora da síndrome de burnout. Em muitos dos casos, férias e folgas não são suficientes para sanar o problema, que pode levar ao isolamento social.

Veja todos os sintomas, segundo Ministério da Saúde, ISMA-BR e as psicólogas Marley Araújo, da SBP, e Erika Nakano, da USP:


Psicológicos
- Dificuldade de concentração
- Lapsos de memória
- Sentimento de fracasso
- Insegurança
- Pessimismo
- Baixa autoestima
- Desesperança
- Sentimento de incompetência
- Alteração de humor
- Isolamento
- Insônia
- Exaustão
- Desinteresse
- Ansiedade


Físicos
- Dor de cabeça frequente
- Alterações no apetite
- Perda ou aumento repentino de peso
- Fadiga
- Dores musculares
- Problemas gastrointestinais
- Taquicardia
- Doenças cardiovasculares


Tenho burnout, e agora?
Invariavelmente, só um psicólogo ou psiquiatra é capaz de confirmar se o quadro é mesmo de burnout. Por isso, devem ser os primeiros acionados diante de qualquer suspeita. Aliás, a descoberta precoce pode impedir que o quadro evolua para uma depressão grave, com presença de ideias suicidas, ou até mesmo síndrome do pânico.
São esses profissionais os responsáveis também por avaliar e atestar a necessidade de um afastamento temporário do trabalho e de envolver medicamentos como antidepressivos e/ou ansiolíticos no tratamento. “Se assim for necessário, o acompanhamento deve durar, no mínimo, seis meses”, afirma Ana Merzel, coordenadora da área de psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Vale lembrar que a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é o órgão do SUS indicado para diagnosticar e tratar pacientes com a síndrome. O segundo passo é comunicar a empresa. O funcionário diagnosticado tem direito, segundo o artigo 118 da Lei 8.213/91, à estabilidade pelo período de afastamento e a receber benefícios do INSS. “Algumas situações são tão graves que, infelizmente, podem levar à aposentadoria por invalidez”, alerta a médica.


As profissões mais afetadas
Finanças
Motivos: Alta volatilidade do mercado, cobranças e grande risco de responsabilização por tomadas de decisões sérias.
Educação
Motivos: Baixa remuneração, jornadas múltiplas e indisciplina dentro da sala de aula.
Saúde
Motivos: Grande volume de trabalho, acúmulo de jornadas, deslocamentos constantes e alto índice de hostilidade.

Homem X mulheres
Quando o olhar se volta para a perspectiva de gênero, já é possível notar alguns padrões. A psicóloga Ana Maria Rossi atenta para o fato de os homens buscarem ajuda 35% menos do que as mulheres, mascarando a gravidade da situação. “Enquanto elas são rápidas em acionar um especialista, eles tendem a canalizar seu sofrimento e a incorrer a comportamentos de risco, como dirigir em alta velocidade e aumentar o consumo de álcool e outras drogas”, explica a presidente do ISMA-BR. Do ponto de vista das dimensões, Erika Nakano aponta diferenças: “O esgotamento emocional acomete as mulheres em maior grau, enquanto os homens tendem a uma maior despersonalização”.


De quem é a culpa?
Buscar um vilão parece inevitável, mas a resposta para o restabelecimento da saúde do trabalhador passa pela corresponsabilidade. “O profissional precisa trabalhar sua capacidade de resiliência. Aprender a transformar obstáculos e frustrações em desafios é fundamental para amortecer as pressões do dia a dia”, explica Rossi. Até porque, ela diz, também há burnout no trabalho autônomo. “As demandas existem e podem fazer adoecer com ou sem patrão”, acrescenta.
Do ponto de vista organizacional, a psicóloga Marley Araújo defende que “as empresas se atentem aos fatores que têm adoecido seus funcionários e capacitem gestores a operarem correções”. Lina Eiko Nakata, especialista em dados da Great Place To Work, consultoria que avalia as melhores empresas para se trabalhar, classifica como tímida a iniciativa das corporações nesse sentido. Defende a criação de comitês para melhor identificação e encaminhamento dos casos internamente, assim como oferta de apoio psicológico e de planos de saúde que atendam a essa demanda. “É fundamental a construção de um ambiente corporativo mais saudável”, diz.


Previna-se
Alguns hábitos podem beneficiar a prevenção, assim como o tratamento da síndrome. Portanto, vale para todos!
- Eleja alguém de confiança para desabafar;
- Faça atividades físicas regulares;
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas;
- Não se automedique;
- Durma pelo menos 8 horas diárias para um sono reparador;
- Participe de atividades de lazer que fujam à rotina diária;
- Procure se cercar de amigos e familiares;
- Evite o contato com pessoas negativas;
- Estabeleça um limite cabível de demanda profissional.


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