Quanto custa organizar um conclave? A pompa, o segredo e a fragilidade ‘crônica’ das contas do Vaticano

08/05/2025
Fonte: O Globo com AFP / Foto: AFP

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Milhares de fiéis lotaram a Praça de São Pedro nesta semana para acompanhar a eleição do sucessor do Papa Francisco. O Vaticano é responsável por organizar a cerimônia, custo sobre a qual permanece discreto, e o Estado italiano, desde os Acordos de Latrão de 1929, assume parte das despesas relacionadas à segurança.

Em 2005, a morte do Papa João Paulo II e a eleição de seu sucessor, Bento XVI, tiveram um impacto de 7 milhões de euros (R$ 45,4 milhões, na cotação atual) nas finanças já frágeis do Vaticano, de acordo com o relatório publicado pela Santa Sé.

De um exercício fiscal para o outro, o Vaticano mostra mais ou menos transparência em relação às suas contas, cujo déficit aumenta ano após ano. Assim, após a histórica renúncia de Bento XVI em 2013, a Santa Sé não detalhou o custo do conclave que levou à eleição de Francisco. Só divulgou que o déficit registrado naquele ano foi de 24 milhões de euros (R$ 155,7 milhões, em valores de hoje).

 

11.900 agentes de segurança

Então prefeito de Roma, Gianni Alemanno pediu, à época, ajuda ao Estado para o município arcar com as contas do conclave. Na ocasião, estimou em 4,5 milhões de euros (quase R$ 30 milhões) os custos relacionados ao reforço do transporte público, o aumento das taxas para os agentes municipais, mas sobretudo os gastos relacionados à segurança dos visitantes, seja na cidade de Roma ou dentro do Vaticano, um Estado independente.

Desde os Acordos de Latrão, assinados em 1929 pelo Vaticano e pela Itália, então governada pelo ditador fascista Benito Mussolini, cabe à polícia italiana, juntamente com a gendarmaria vaticana, garantir a segurança ao redor do Vaticano e na Praça de São Pedro, onde o nome do sucessor de Francisco será anunciado no final do conclave.

Desta vez, o governo ultraconservador de Giorgia Meloni já fez seus preparativos: no dia seguinte à morte de Francisco, em 21 de abril, assinou um decreto liberando fundos para mobilizar a proteção civil italiana, responsável pela “mobilidade, assistência e recepção”, incluindo delegações estrangeiras, “até a eleição do novo soberano Pontífice”, juntamente com a polícia italiana sob a autoridade do prefeito de Roma.

O custo total para o Estado italiano ainda não foi calculado, disse o ministro da Proteção Civil, Nello Musumeci, no final de abril, “mas uma medida já foi adotada para os primeiros cinco milhões de euros” — o equivalente, na cotação atual, a R$ 32 milhões. O governo lembrou que em 2005, 11.900 agentes de segurança, mil bombeiros e cinco mil funcionários públicos trabalharam no funeral e depois no conclave.

No entanto, além dos custos, a cidade de Roma e suas empresas podem esperar resultados positivos: de acordo com a associação de proteção ao consumidor Codacons, “os preços em Roma” para hotéis e acomodações estavam em um “nível estratosférico” durante o funeral de Francisco, entre 200 e 2 mil euros por quarto perto do Vaticano, em comparação com 170 a 780 euros normalmente durante o período turístico.

 

Déficit crônico do Vaticano

A Santa Sé se recusou a comentar os custos do conclave, que começou nesta quarta-feira, com seu porta-voz Matteo Bruni apenas ressaltando que não haverá “patrocínio publicitário”. O cardeal camerlengo – o americano Kevin Farrell – responsável pelos assuntos atuais desde a morte de Francisco, “cuida de tudo”, acrescentou.

Entre as despesas, foi necessário organizar as viagens de cardeais e seus assistentes de todo o mundo, hospedá-los, alimentá-los, preparar a Capela Sistina para o conclave e a Praça de São Pedro para o funeral e depois a proclamação do novo Papa.

As finanças da Santa Sé já eram precárias antes disso tudo: embora o Vaticano relate suas contas com grande irregularidade, mencionou um déficit para a Cúria Romana (governo central) de cerca de 30 milhões de euros em 2022 (R$ 194 milhões), frente a 769 milhões de receitas.

Em um esforço para colocar as finanças do Vaticano em ordem e combater fraudes, o Papa Francisco criou em 2014 a poderosa Secretaria para a Economia. A pasta se comprometeu a vender anualmente por “20 a 25 milhões de euros” o imenso patrimônio do Vaticano, explicou em 2022 seu prefeito, o padre espanhol Juan Antonio Guerrero.

Mas o microestado continua sofrendo com a queda nas doações dos fiéis e com investimentos financeiros com retornos incertos, enquanto suas despesas operacionais, principalmente os custos com pessoal, estão aumentando. Sua imagem também foi manchada por escândalos de peculato, envolvendo principalmente o influente cardeal Angelo Becciu, que foi impedido de votar no conclave.


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