Técnica em Enfermagem faz relato sobre a pandemia em hospitais da região

02/04/2021
Bianca Silveira tem 28 anos (Fotos: Arquivo pessoal)

Bianca Silveira tem 28 anos (Fotos: Arquivo pessoal)

Técnica em Enfermagem, a dois-irmonense Bianca Silveira, de 28 anos, atualmente trabalha em dois hospitais de Novo Hamburgo, Hospital Regina e Hospital Unimed. Há um ano atuando em meio à pandemia, ela relata, a seguir, como está sendo este período, trazendo um pouco da rotina das casas de saúde e os desafios diários, diante de um cenário extremamente preocupante. Acompanhe:

 

“Quando começou a pandemia, trabalhava no Hospital de Sapiranga, no bloco cirúrgico. No início do ano passado tivemos uma reunião, na qual a coordenação relatou a situação sobre a pandemia. No primeiro momento, ficamos assustados com o relato, que alertava para a possibilidade de ficarmos sem leito e até mesmo de respiradores no Brasil.

Quando começaram a surgir casos de Covid-19, inicialmente os enfermeiros do setor tiveram que mudar as escalas dos colaboradores, pois não sabiam como seria essa primeira demanda dos casos de coronavírus. As escalas de cirurgião foram diminuindo, colaboradores ganharam férias antecipadas; um corre, corre para deixar as salas cirúrgicas para pacientes com Covid em isolamento. Depois desse primeiro momento, acredito que foi um ‘alívio’ para todos os profissionais da saúde, pois tudo o que a mídia relatou ainda não era a nossa realidade. A rotina foi voltando aos poucos, bloco cirúrgico voltando com os procedimentos e internação com internação limpa (onde não há Covid).

Na metade do ano, me desliguei do Hospital de Sapiranga para iniciar uma nova jornada no Hospital da Unimed e no Hospital Regina. Naquele período, estávamos com uma rotina normal na internação do Regina. Na Unimed também. Sempre nos protegendo com máscaras.

Em meados de outubro, tivemos um número elevado de pacientes com Covid-19. Os hospitais tiveram que reunir suas equipes novamente, para atualizar a situação. No hospital Regina, a ala de coletas foi fechada e é usada para a Covid. Na Unimed, o bloco cirúrgico virou internação Covid.

Como no Regina eu trabalho na internação limpa (onde não há Covid), não tinha muitas informações sobre os atendimentos Covid, pois as manhãs são corridas. Já na Unimed, o cenário era outro. Um corre, corre, pois tínhamos que fazer um bloco cirúrgico virar unidade de internação Covid; entra maca, sai maca, pega respirador reserva, cilindro de O2, parede de oxigênio montada, mudanças sem fim. Tínhamos bastante casos; alguns faleceram, outros receberam alta para casa, e assim sucessivamente. Às vezes com lotação máxima, às vezes com leito disponível, mas ninguém em ventilação mecânica.

 

Quando deu o estouro da pandemia, no Carnaval, ficamos frustrados com a situação, pois não havia mais leito de UTI para pacientes, em lugar algum.

É doloroso ter que dizer que vivemos em meio a uma guerra. Nunca na minha vida achei que passaria por uma situação assim. Vou relatar algo que jamais vou esquecer: fui medicar um paciente e, quando estava saindo, senti algo puxando minha roupa. Quando olhei, era o paciente, que disse o seguinte: ‘Por favor, eu assino qualquer papel, mas por favor, me entuba? Eu não consigo respirar!’. Gente, não tem coisa pior do que se sentir impotente diante de uma situação que tu sabe que não pode fazer absolutamente nada, aquilo ali não depende de ti. Fiquei arrasada; eu e minha colega choramos, ficamos sem reação.

 

Passados alguns dias, a situação da pandemia não melhorou. UTIs lotadas, sala de recuperação sendo transformada em UTI limpa, unidades sendo fechadas para isolamento Covid. Vivemos uma cena de horror. Só quem a vive para descrever. Pacientes jovens morrendo, pacientes morrendo um atrás do outro. Não estávamos mais dando conta e o desespero batendo na porta. Respirador faltando, é lamentável!

Desde que fecharam tudo, houve uma melhora significativa nas internações onde eu trabalho. Claro que ainda temos internações, mas o fluxo está bem menor que no início do ano.

Diante de tudo isso, nós, profissionais da saúde, pedimos que fiquem em casa, evitem aglomerações... nós precisamos da ajuda de todos. Os profissionais da saúde estão sobrecarregados. Fiquem em casa!”.


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