“É preciso combater a masculinidade tóxica”, diz médico vencedor do Nobel da Paz

27/09/2019
Fonte: G1

Fonte: G1

O médico congolês Denis Mukwege, um dos vencedores do prêmio Nobel da Paz de 2018, defendeu, em visita ao Brasil, que os homens se engajem no combate à violência contra a mulher e atuem para acabar com a “masculinidade tóxica”. O ginecologista segue com uma intensa agenda internacional para denunciar a utilização do estupro como arma de guerra em todos os continentes. “Creio que é muito importante que os homens se engajem na luta contra a violência sexual. Hoje acredito que temos que ir à fonte [da desigualdade entre homens e mulheres]. Temos uma responsabilidade compartilhada na nossa sociedade. É preciso eliminar a masculinidade tóxica, que leva a catástrofes”, afirmou o ginecologista.
Mukwege, que cuida de mulheres vítimas de violência sexual em um hospital na República Democrática do Congo, recebeu o G1 no hotel onde estava hospedado, em São Paulo, para participar de conferência do projeto Fronteiras do Pensamento, em agosto. “Quando você analisa de mais perto, percebe que mesmo em uma sociedade em paz o estupro é usado [como arma] e os criminosos são protegidos pela lei do silêncio. Quando a guerra começa, não tem mais lei, não tem mais fé, isso se torna escandaloso”, observa o médico de 64 anos. Na avaliação dele, é preciso atuar para que as sociedades não deem mensagens fortes de que o homem não é igual à mulher. “A gente sabe muito bem que a mulher pode trabalhar a mesma quantidade de horas que um homem, pode ter um mesmo diploma com a mais alta nota, mas ela terá sempre um salário inferior ao salário de um homem.”
O médico também cita exemplos da China e de países africanos. “Na China, fetos do sexo feminino são simplesmente liquidados. Quando uma mulher é obrigada a abortar quatro vezes até que na 5ª vez ela tenha um feto masculino. É esse feto que a gente deixa. Qual é a mensagem que fica? É a de que as outras quatro [mulheres] não valem nada. Ou na África, quando uma mulher que tem três, quatro, cinco meninas, e é abandonada pelo marido porque não teve um menino”, observa.


Educar e ajudar a quebrar o silêncio
Para mudar essa situação, o médico acredita que o homem pode contribuir ao ajudar a “educar os filhos desde o berço para que possam compreender que as meninas e os meninos são todos crianças e que são iguais”. “Não me incomodo de poder pensar que a mulher é o futuro da nossa humanidade. Somos todos nascidos de uma mulher, nós temos irmãs, temos esposas, temos mãe”, comenta.
Mukwege também acredita que o homem pode ajudar as vítimas a quebrar o silêncio e buscar justiça. “A melhor maneira de evitar a violência sexual em uma sociedade em paz é quebrar o silêncio. A partir do momento em que os criminosos sabem que não ficarão impunes e que a mulher vai denunciar, eles vão pensar duas vezes antes de cometer esse ato.”


Estupro como arma de guerra
Nas guerras, a violação dos direitos da mulher se agrava e o corpo feminino passa a ser utilizado como um “verdadeiro campo de batalha” em conflitos em vários continentes. “O estupro é uma arma de guerra muito forte, porque ela destrói a capacidade de toda uma comunidade de poder se unificar. Destrói o tecido social, todas as bases sobre as quais uma sociedade se estabelece”.
Mukwege, que ganhou o Nobel com a ex-escrava sexual do Estado Islâmico Nadia Murad, acompanha o sofrimento de mulheres que são violentadas rotineiramente na guerra civil na República Democrática do Congo, que começou na década de 90. O hospital de Panzi, em Bukavu, no leste do país, tem capacidade para acolher até 10 mulheres por dia. Inicialmente, previa-se que ele acolhesse parturientes, mas, desde a sua abertura em 1999, recebe vítimas de estupros extremamente violentos. “São atos de barbárie para mostrar o poder, a força [do agressor]. Quando o estupro acontece em público é muito mais para humilhar a comunidade. É uma maneira de traumatizar não só a vítima.”


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