
Sadi Andrighetto, recepcionando a reportagem durante a degustação dos vinhos da Milantino
Não é à toa que o primeiro milagre conhecido de Cristo foi fazer vinho. Vinho é um elemento vivo e superior, entre as bebidas. Cristo não havia levado presente para a noiva, nas bodas de Canaã, e sua mãe, Maria, lhe cobrou por essa falha. Cristo então abençoou a água, transformando-a num legítimo “vinho dos deuses”.
Portanto, se você quiser fabricar vinho bom, se prepare...
Originalmente todo vinho é branco.
É a adição ou não da casca ao sumo da uva que o tornará branco, tinto ou rosê. Há vinhos de mesa e vinhos finos. A maioria deverá ser consumida entre o terceiro e o quinto ano de fabricação. Mas há uma pequena parcela que se chama vinho de guarda. E é aqui que entra a Vinícola Milantino, de Bento Gonçalves.
Os vinhos de guarda
São aqueles que evoluirão, tornando-se vinhos de alta complexidade dentro da garrafa. Nesses vinhos, as substâncias se desenvolvem devido a associação de vários fatores, como tipo da uva, método de cultivo, controle de rendimento da vinha e manipulação do enólogo.
Este estágio de guarda (os famosos vinhos velhos) agrega complexidade de aromas e sabores ao vinho, além de maciez e elegância. Tudo isso melhora a qualidade, é claro, e o preço.
Nos vinhos tintos, durante a guarda a cor mudará lentamente, passando de um vermelho rubi para um vermelho granada, e os aromas evoluirão para chocolate, tabaco, especiarias ... como que trazendo à luz o sabor dos tempos que a uva recolheu dos recônditos da terra em que foi plantada.
Algo raro de se ver: Uma adega gaúcha e com vinhos de alta guarda.
As empresas do Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul são responsáveis pela produção da imensa maioria dos vinhos brasileiros. E foi ali em Bento Gonçalves que, em 1989, nasceu a pequena adega familiar Milantino Vinhos Finos.
De acordo com seu proprietário, Sadi Andrighetto, a vinícola surgiu com a filosofia de elaborar vinhos de alta qualidade e com produção limitadas. Seus produtos são elaborados com uvas cultivadas em vinhedos próprios e a produção segue um criterioso cuidado, desde o cultivo das videiras até a seleção das uvas durante a colheita.
A ideia é produzir 30 mil garrafas por ano, colocando dentro delas um produto de qualidade superior e de guarda. Não é um intento fácil. Mas Sadi e sua família têm história no vinho.
Natural de Cruz Alta, ele se denomina um “blend” dos avós paterno e materno. O paterno, um italiano que gostava muito de vinho. O que não é uma coisa rara, como se sabe. E do lado materno um mix franco-português. Essa mistura genética proporcionou a Sadi muito cedo conhecer os vinhos e a tradição vinícola do Velho Mundo. Seus parentes teriam trazido na bagagem algumas mudas de videiras, que acabaram plantando em solo brasileiro. Ainda de calça-curta, o menino Sadi já ia convivendo entre os avós com a uva e com o vinho, como que antevendo e solidificando ali seu futuro no ramo das vinícolas.
Mas ter história não basta
Para fabricar vinho, e vinho de guarda mais ainda, é preciso além de muita coragem e força, trabalho muito trabalho. Porque não se trata apenas de produzir, é preciso criar conceito e vender. Liderados pelo Sadi, a pequena equipe da Milantino, ombreando com gigantes da produção vinícola, não se intimidou, e se jogou de corpo e alma nessa proposta de vinhos superiores de alta guarda.
Segundo Sadi, a vinícola foi idealizada para produção de vinhos finos “e como o objetivo obteve sucesso o passo dado rumo aos vinhos de altíssima guarda foi quase natural na Milantino”.
Hoje, as 30 mil garrafas ano que a empresa produz com uvas próprias são todas dedicadas ao chamado vinho de guarda. E a Milantino vem recebendo prêmios de vários lugares, como reconhecimento ao esforço, técnica e cuidados empregados na produção dos seus vinhos.
(Por Alan Caldas – Editor)
*
Destacamos dois vinhos da Milantino
Malbec 2015
Entre os vinhos da Milantino, destaca-se o Milantino Reserva Malbec, safra 2015, eleito o Melhor Malbec do Brasil. Essa uva, original de Bordeaux, na França, se adaptou de forma espetacular ao solo argentino, na região de Mendonça, e atualmente a Argentina produz 75% dos vinhos malbec consumidos no mundo. Mas o Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, como bem mostra e prova a medalha da Milantino, não deixa dúvida de que aqui também é possível produzir um malbec de alta qualidade. É um vinho encorpado e com taninos bem presentes. Apresenta aromas de frutas vermelhas como ameixa e amora, com notas de baunilha, tabaco e cacau.
Merlot Reserva safra 2002
Vinho de alta guarda. Encorpado. Cor vermelho rubi com tons violáceos. Possui um agradável bouquet, com delicado aroma de frutas, lembrando ameixa preta, violeta, chocolate e amora.
É a “Jóia da Coroa”. Restam apenas 90 garrafas, vendidas cada uma ao preço de 3 mil reais.