
Mulher rompeu o ciclo de violência após um casamento de 49 anos
Aos 69 anos de idade e com o apoio dos filhos, uma mulher denunciou, em janeiro deste ano, o ex-marido, com quem foi casada durante 49 anos.
Era 23 de janeiro quando ela entrou na delegacia, acompanhada de um dos filhos, para relatar as inúmeras vezes que foi vítima de violência psicológica ao longo do relacionamento. “Fomos criadas para o casamento”, diz ela, que é de uma família humilde do interior. “Crescemos com a cultura de que ‘casamento é para sempre’, e assim levei o meu durante muitos anos”, lamenta.
Ao relatar as agressões verbais sofridas ao longo do casamento, ela conta que pensou em suicídio. “Um dia, após uma discussão, saí de casa para isso. Queria tirar a própria vida para acabar com o meu sofrimento, mas pensei melhor, mudei de ideia no meio do caminho e fui para a missa. Chorei a missa inteira. Fiquei horas sentada na igreja”, lembra.
Acreditando em mudanças por parte do ex-marido, ela sofreu em silêncio por anos. “Muitas e muitas vezes fui para o quarto chorar sozinha, para ninguém me ver”, conta ela, relatando que o homem não permitia que ela recebesse visitas em casa e se incomodava ao vê-la conversando com a vizinhança. “Eu era uma pessoa infeliz, frustrada, desanimada”, diz ela, ressaltando que a força para suportar as adversidades veio dos filhos. “A única coisa boa que ele (ex-marido) me deu foram os meus filhos”, reforça.
O casal estava separado informalmente há 15 anos, no entanto, seguiu morando na mesma casa até o dia da denúncia, em janeiro deste ano. Anos após a decisão da separação, ela começou a frequentar um grupo de terceira idade. Chegou a convidar o ex-marido para fazer parte, no entanto, ele recusou. “Nos reunimos para conversar com os amigos, falar dos netos, de receitas, e até isso ele criticava. Nunca gostou que eu participasse”, conta, relatando que a integração com o grupo fez muito bem a ela. “Antes eu não conhecia as pessoas, não tinha amizades; hoje eu tenho”, relata, orgulhosa por ter tido coragem para romper o ciclo de violência. “No meu casamento, eu não tinha poder de escolha, de decisão. Me sentia uma empregada dentro de casa. Ele reclamava de tudo e ainda fazia eu me sentir culpada pelas coisas. Quero uma vida nova, feliz, tranquila”, reforça, ressaltando o quanto foi importante o apoio da família, principalmente dos filhos e netos, na tomada de decisão.
A decisão de denunciar ocorreu após uma fala do ex-marido, em dezembro de 2023. “Ele falou que tinha guardado dinheiro para o meu caixão. Me senti ameaçada e decidi denunciar”, lembra.
(Texto e foto: Thaís Lauck)