10 de setembro de 1959 – A história da emancipação de Dois Irmãos

09/09/2024
Justino Antonio Vier, Guilherme Bertholdo Becker, Felippe Alfredo Wendling, José Victor Rausch e Felippe Seger Sobrinho

Justino Antonio Vier, Guilherme Bertholdo Becker, Felippe Alfredo Wendling, José Victor Rausch e Felippe Seger Sobrinho

Uma foto histórica, repleta de significados. Cinco dos nove emancipadores reunidos para a posteridade: Justino Antonio Vier, Guilherme Bertholdo Becker, Felippe Alfredo Wendling, José Victor Rausch e Felippe Seger Sobrinho. Ao fundo, a Avenida São Miguel.

A imagem é mais um achado do belo trabalho de pesquisa feito pela equipe do documentário “Nossa Gente: Trabalho e Fé”; foi conseguida com Liria Lucia Lawisch, a Tia Liria.

Para conhecer um pouco da realidade da época da emancipação de Dois Irmãos, recorremos ao livro “História de Dois Irmãos – Passado e Presente”, escrito pelo emancipador e ex-prefeito Justino Antonio Vier e publicado em setembro de 1999.

Leia a seguir, nas páginas 10 e 11, como Justino Vier (in memoriam) narrou aquele período emblemático:

 

Maturidade política e econômica

Na década de 1950, foi surpreendente a criação de novos municípios em todo o Estado do Rio Grande do Sul. Como não poderia deixar de ser, no Vale do Sinos foi constatado o mesmo fenômeno. Na antiga “Baumschneiss”, reuniu-se um grupo de valorosos homens, líderes comunitários e integrantes dos diversos partidos políticos da época, que estudaram a difícil causa, que se tornaria vitoriosa. Constatamos que, num longo período, os distritos mais distantes de São Leopoldo, como Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, respectivamente o 4º, 6º e 8º distritos, apresentaram a mínima perspectiva de desenvolvimento. Tínhamos na época diversas pequenas indústrias de calçados, como: Ellwanger & Cia, Calçados Montanha, Calçados Rosely, Birk & Cia Ltda., H. Kuntzler e Cia, J.A. Wirth & Cia, como também a fábrica de bebidas de Annibal F. Krug, o Frigorífico Dois Irmãos Ltda., a construtora São Miguel Ltda. e outras menores, que hoje seriam chamadas de “microempresas”.

Na mesma época, o comércio de produtos alimentícios era diversificado, ou seja, nos três distritos a comercialização de produtos agrícolas era acentuada, pois diariamente mais que uma dezena de caminhões, vindos de toda a área, comercializavam uma respeitável quantidade de gêneros como: batata, cebola, produtos hortigranjeiros, aves, ovos etc. para o mercado consumidor da região metropolitana. A exploração da “acácia negra” era considerada um alto negócio. Os agricultores, para recuperação do solo, faziam plantação desta leguminosa, que, após sete anos, os próprios colonos cortavam, vendendo a lenha e a casca para as indústrias de tanino. Não obstante, as principais atividades de nossa região, ativamente econômica, estavam estreitamente vinculadas à terra e à pecuária, sistema de minifúndio; ocuparam cerca de 80% de nossa população.

Os homens da indústria e do comércio, além de poucas outras profissões, principalmente do 4º distrito, eram unânimes na afirmativa de que a maturidade política e econômica nos mostrava a autodeterminação. Durante muitos anos, o município-mãe (São Leopoldo) apenas mantinha a rede escolar municipal, sendo a maioria em prédios alugados; os outros serviços, como energia elétrica, obras de infraestrutura, estradas e pontes muito deixaram a desejar num longo período. Também era verdadeira a lógica de que a arrecadação da Taxa de Construção e Conservação de Estradas (da época) não era alta, mas todos tinham que pagar, como também a contribuição de taxas do comércio e da indústria. Com certeza, o retorno não era maior do que a arrecadação tributária. Assim eram constantes, junto aos subprefeitos da época, as reclamações por melhorias, porém o atendimento poucas vezes e em poucos casos era realizado.

 

Exemplos de Sapiranga e Campo Bom

Lembro de que muitas pessoas perguntavam: “Por que Sapiranga e Campo Bom, emancipados poucos anos antes, vão muito melhor que a nossa região?” Crescia, portanto, o descontentamento geral dos contribuintes, cuja única saída era iniciar o movimento de emancipação. Em meados de 1958, algumas pessoas, líderes políticos, fizeram os primeiros contatos com os deputados da Assembleia Legislativa na busca de informações precisas. Torna-se importante dizer que para apresentar as nossas reinvindicações e requerer um melhor atendimento de parte da prefeitura municipal, sempre estivemos bem representados na Câmara de Vereadores como, por exemplo, por Edvino Holler, João Klauck, que foi vice-prefeito com o Dr. Germano Hauschild, Willy Fernando Schaumloeffel (Santa Maria do Herval), Albano Kuhn, Benno Kaefer e outros influentes políticos.

Assim, uma das primeiras iniciativas foi conseguir a “Consulta Plebiscitária”, autorizada pela Justiça Eleitoral de São Leopoldo e realizada em 15.11.1958.

É evidente que o “SIM” (Queremos município) venceu bonito no 4º e 6º distritos; no 8º, ou seja, em Santa Maria do Herval, houve bastante voto “NÃO”, consequência de más informações.

O procedimento na escolha da “Comissão Emancipadora” foi muito cauteloso, sendo pluripartidária, pois tomou em consideração o muito trabalho que esperava os integrantes da Comissão.

Dada a repercussão da nominata da “Comissão de Emancipação” junto às autoridades de São Leopoldo, somente poderíamos esperar uma negativa de parte do então prefeito Dr. Paulo Couto. A caminhada pela emancipação tornou-se realidade em meados de 1958, sendo muito bem recebida em todos os três distritos. O otimismo e a persistência da Comissão foi a tônica durante mais de um ano dos emancipadores.

 

Nem tudo era um mar de rosas

A comissão escolhida abraçou uma árdua tarefa: uma, junto aos eleitores, para prepará-los para uma nova realidade; a segunda, a preparação de toda a documentação para o encaminhamento junto a Assembleia Legislativa do processo da nossa emancipação. Sabíamos que nem tudo era um mar de rosas.

Primeiramente foram solicitados à Prefeitura os itens necessários para que os deputados pudessem julgar o pedido: o montante da arrecadação dos três distritos, como ainda o cálculo de retorno de ICMS referente à área emancipada. Aos órgãos estaduais foi solicitada a população e área dos três distritos.

Destacamos os deputados amigos, votados em nossos distritos, que também foram defensores da nossa causa: Solano Borges, Getúlio Marcantônio, Arlindo Kuntzler, Alexandre Machado da Silva, Nestor Pereira, Hélio de Souza Santos, entre outros.

Precisamos mencionar que nesta árdua tarefa tivemos um forte aliado em Estância Velha e Ivoti, que no mesmo momento também pleiteavam sua emancipação. Pela situação geográfica, o movimento emancipacionista deles era prejudicado, pois, no caso de rejeitada a nossa emancipação, o novo município de Estância Velha, cujo processo seria mais facilmente aprovado, cortaria a ligação territorial da remanescente área de Dois Irmãos; esta situação seria inviável, pois teríamos que passar por outro município (ou Novo Hamburgo ou Estância Velha) para chegar ao município-mãe (São Leopoldo). Um líder competente e lutador das duas causas era indubitavelmente o Dr. Victor Schuck, do PTB, que depois se tornou o 1º prefeito daquele município.

A comissão emancipadora iniciou uma verdadeira maratona política nos três distritos, aos domingos e dias de festas ou bailes, para esclarecer as populações mais humildes sobre as vantagens da criação do novo município. Uma das principais era conhecer de perto os candidatos a prefeito e vice, como ainda a quase totalidade dos vereadores, para assim poder reivindicar melhor.

Para surpresa da comissão das duas áreas emancipadas, enfrentaram logo um “Mandado de Segurança”, impetrado pelo município de São Leopoldo e boa parte dos vereadores, para inviabilizar os novos municípios.

Foi deveras difícil derrubar o “mandado judicial”, pois não eram totalmente infundadas as razões da ação impetrada contra Dois Irmãos baseada em dois itens fundamentais:

1) Que Dois Irmãos, na época com apenas uma rua, poucas microempresas, como também as duas sedes distritais, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, pequenas vilas, ou melhor, localidades agrícolas, não possuíam receita direta e indireta suficientes para o desenvolvimento socioeconômico;

2) Que a população total dos três distritos era em torno de 7.800 habitantes, abaixo do exigido por lei, isto é, 10.000 pessoas.

Como sempre acontece, a Prefeitura Municipal enviou máquinas ao 3º distrito para fazer uma estrada nova, que liga Santa Maria do Herval por Walachai e Morro Reuter. Esta obra, precariamente aberta e sem a mínima infraestrutura, é claro que prejudicou o plebiscito naquele distrito, pois a nova estrada era uma antiga reivindicação.

Temos que reconhecer que eram verdadeiras algumas destas alegações, porém a força e a união da população eram maiores. Travou-se, então, a batalha judicial que perdurou por quase um ano. Os dois futuros municípios caminharam juntos, pois era uma questão apenas política; São Leopoldo poderia até se encaminhar, ajudando, como deveria, para que os dois municípios com facilidade criassem sua autonomia. Procuramos entender por que negar a nossa independência política, pois distamos do município-mãe entre 25 e 40 km de distância.

 

“Dia da Vitória”

A perseverança da nossa Comissão e da população se solidificou de tal forma que vencemos as barreiras de políticos revanchistas daquela época. Costumamos afirmar que uma luz apareceu no “fundo do túnel”. Quem participou do movimento emancipacionista reconhece que o mesmo foi árduo e oneroso monetariamente, durando mais de um ano.

Para a felicidade nossa, a 8 de setembro de 1959, foi sancionada a Lei da criação do Município de Estância Velha.

E, para alegria nossa e de toda a população de Dois Irmãos e de seu interior, raiou um dia agradável e com sol, que era o dia 10 de setembro de 1959, quando o Exmo. Sr. Governador do Estado, Eng. Leonel de Moura Brizola, sancionou a Lei Estadual de nº 3.823/59, aprovada pela Assembleia Legislativa, criando o “Novo Município de Dois Irmãos”.

Muitos dois-irmonenses ainda se lembram do “Dia da Vitória”, quando a Comissão Emancipadora foi recebida em Dois Irmãos com grande festa, música, foguetes e depois percorreu todo o interior para assim levar a todos a boa nova.

Na noite do mesmo dia, no Salão de Festas da Sociedade Atiradores, com a presença de grande público, dos principais Deputados Estaduais de nossa causa, que foram homenageados, e da população de todos os níveis sociais, houve festiva comemoração.

Criando o novel município, os partidos políticos tiveram que fundar seus “novos diretórios”, e efetuar o registro dos respectivos partidos, a saber: PSD, PL, PTB e PRP.

A Justiça Eleitoral de São Leopoldo fixou para o dia 20 de setembro de 1959 a “Eleição Municipal de Prefeito e Vereadores”.

“Certificamos que o Sr. Benno Kaefer era vereador durante o período de 1955-59, e que, de acordo com a certidão, renunciou ao Cargo de Presidente em 1º de Março de 1959 por estar integralmente apoiando a causa de nossa emancipação”.

 

 

EMANCIPADORES

Alberto Meurer

Albino Pedro Ellwanger

Algemiro Fleck

Felippe Alfredo Wendling

Felippe Seger Sobrinho

Guilherme Bertholdo Becker

João Klauck

José Victor Rausch

Justino Antonio Vier

 

 

PREFEITOS

Justino Antonio Vier – 1960-63 / 1973-76

Walter Fleck – 1964-68

Léo Klauck – 1969-72

Norberto Rübenich – 1977-82

Romeo Benicio Wolf – 1983-88

João Arnildo Mallmann – 1989-92

Renato Dexheimer – 1993-96 / 2005-08

Juarez Stein – 1997-2000 / 2001-04

Gerson Miguel Schwengber – 2009-12

Tânia Terezinha da Silva – 2013-16 / 2017-20

Jerri Meneghetti – 2021-2024


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