
A professora e intérprete de Libras Alessandra Born Berg é responsável pela formação continuada de Libras com os profissionais da educação
Em um cenário cada vez mais voltado à inclusão e à equidade, o município de Dois Irmãos dá passos importantes na promoção da acessibilidade, por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A comunicação em Libras não é apenas uma ferramenta, é um direito.
Na última semana, especificamente no dia 24 de abril, o Brasil celebrou 23 anos desde a instituição da Lei nº 10.436/2002, comemorando assim o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais, data que marca não apenas o reconhecimento oficial dessa língua visual-gestual, mas também a valorização da identidade, da cultura e dos direitos da comunidade surda. Por meio dela, surdos e ouvintes têm a oportunidade de construir juntos uma convivência mais acessível e igualitária, em que o direito à comunicação é respeitado e garantido.
Nos últimos anos, os avanços são indiscutíveis. Na educação, houve um crescimento significativo, especialmente contando com profissionais especializados e treinados para atender a comunidade com perda de audição. De acordo com a secretária de Educação, Denise Maldaner, a rede municipal de ensino conta com professores que possuem o curso de Libras. “Atualmente, a EMEF Professor Paulo Arandt possui uma professora referência no ensino de libras, atuando junto à turma que possui uma estudante com perda auditiva. As professoras de Atendimento Educacional Especializado (AEE) recebem formação específica de Libras dentro do cronograma de formação continuada, ofertado pela rede municipal de ensino”, explica ela.
A secretária também destaca a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Documento Orientador de Dois Irmãos – DOC-DI, e menciona a importância da acessibilidade linguística e da inclusão. Segundo o levantamento realizado nas escolas, através da secretaria, quatro estudantes apresentam deficiência auditiva e uma estudante, perda de audição. “Em relação aos professores, temos o registro de duas professoras na rede municipal com deficiência auditiva”, menciona Denise.
Desafios no contexto escolar
De acordo com a secretária, a inclusão de estudantes surdos ainda enfrenta diversos desafios no contexto escolar. “A maior dificuldade apresentada é a própria comunicação”, comenta.
A inclusão de estudantes surdos nas escolas depende, principalmente, da superação das barreiras de comunicação. Para isso, Denise afirma que é fundamental investir na formação dos professores, na presença de intérpretes de Libras e na criação de um ambiente escolar acolhedor e acessível. “Assim, é possível proporcionar o desenvolvimento desses estudantes, promovendo o respeito, a equidade e o pertencimento”, menciona.
A Secretaria de Educação conta hoje com o setor da educação inclusiva, que responde pelas demandas da inclusão dentro da pasta. As professoras Priscila de Lima e Dulce Garcia são as responsáveis pela Educação Inclusiva.
Inclusão além do ambiente escolar
A exemplo das escolas, cada vez mais os ambientes públicos e de convivência comunitária buscam atender às pessoas com deficiência, de todos os espectros, incluindo as pessoas surdas.
Gilberto Lange, professor e tradutor de Libras, atua há 20 anos na área de inclusão. Ele fala sobre as dificuldades e os desafios, e que a realidade é ainda mais alarmante em espaços como hospitais, onde a falta de intérpretes pode significar o não atendimento adequado de uma pessoa surda. “Como visitante em um hospital, certa vez precisei intervir para garantir que um paciente surdo fosse compreendido e atendido com respeito. A expressão de alívio no rosto dele ao perceber que alguém poderia se comunicar com ele foi algo que nunca vou esquecer”, recorda Gilberto.
O tradutor também presta serviços de tradução em eventos culturais. Em Dois Irmãos, por exemplo, participa do Natal dos Anjos, onde traduz espetáculos e apresentações durante a programação.
Estrutura, gramática e vocabulário próprios
A Libras, assim como outras línguas de sinais ao redor do mundo, possui estrutura, gramática e vocabulário próprios, refletindo a história e a cultura da comunidade surda brasileira. Não existe uma língua de sinais universal, e respeitar essas particularidades é essencial para combater estereótipos e promover a verdadeira inclusão.
“Para quem deseja aprender Libras ou tornar-se intérprete, é fundamental buscar formação com profissionais qualificados, manter contato constante com a comunidade surda e desenvolver competências específicas como ética, fluência em português e Libras, além de domínio de contextos diversos. Aprender Libras é, antes de tudo, um gesto de respeito, empatia e compromisso com a inclusão”, afirma Gilberto.
Com o avanço das políticas de acessibilidade, o fortalecimento da educação bilíngue e a crescente presença da língua nos espaços digitais e sociais, a expectativa é que a Libras se consolide ainda mais como ferramenta de inclusão.
Mais do que uma comemoração, o Dia Nacional da Libras é um chamado à reflexão e ao compromisso coletivo de tornar o Brasil um país verdadeiramente acessível, onde a comunicação seja um direito de todos, falado, sinalizado e compreendido com igualdade.